Assinalando o centenário da morte de São Francisco e de Santa Jacinta Marto (2019 e 2020), o Santuário de Fátima promove as Jornadas interdisciplinares As crianças, a morte e o luto. Este processo quer reunir os agentes de educação, de cuidados de saúde e pastorais para, com o contributo das diversas ciências e em perspetiva aberta, conhecer as dificuldades e os desafios suscitados pela experiência da morte e do luto das crianças e pelas crianças em cada um destes âmbitos, aprofundar a consciência dos seus significados e consequências, procurar linhas de intervenção culturalmente e socialmente transformadora e propor subsídios concretos para a integração e o acompanhamento das pessoas, das famílias e das instituições que vivem esta experiência com sofrimento.
Enquanto primeiro momento alargado de aproximação multidimensional e interdisciplinar ao problema em questão, o referido Seminário de 23 de novembro permitiu esboçar um diagnóstico da realidade, alargar o conhecimento das práticas existentes e reunir contributos significativos quanto a desafios, projetos e eixos temáticos a considerar no desenvolvimento do processo, nomeadamente rumo a estas Jornadas que agora terão lugar.
No espaço educativo, a assunção da morte e do luto como tabus sociais encontra repercussões nos mais diversos níveis e dimensões, de que são exemplo a ausência de referenciais e/ou outros instrumentos auxiliadores de atuação, o ténue aprofundamento do tema a nível curricular ou mesmo, em alguns casos, a excisão de partes em que se aborde o tema da morte e do luto em obras culturais em estudo.
No quotidiano, quando a morte/luto se faz presente em algum elemento da comunidade educativa, a atuação dos profissionais realiza-se empenhando os esforços individuais dos diversos intervenientes, mais ou menos esclarecidos, prevalentemente sem orientações cabais nem sistematização na intervenção, que fica a cargo maioritariamente das pessoas de referência do enlutado ou entregue aos serviços de psicologia e orientação.
Relativamente à formação dos diferentes agentes educativos, relevou-se a ausência destas temáticas na formação dos professores na pluralidade das áreas científicas que compõe o curriculum escolar português. Por norma, os elementos presentes nas escolas que são considerados mais capacitados para lidar com esta temática são, genericamente, os psicólogos escolares. São eles os interpelados a agir sempre que se constata alguém a passar por esta necessidade, mesmo que, por vezes, sintam impreparação para a realidade com que se deparam.
Embora se reconheça a relevância do tema, por tratar uma realidade que atravessa de forma marcante a vida das pessoas que compõem a comunidade educativa, parece frequente remeter-se o assunto para a esfera familiar/privada, por duas razões fundamentais: por um lado, por esta realidade ser, aparentemente, assumida como de natureza extraescolar, com consequente demissão do processo por parte das instâncias oficiais; por outro lado, pela ausência de referenciais comuns de atuação que apoiem na sua gestão, com a subsequente perceção de inaptidão para o acompanhamento.
Também o diagnóstico traçado pela sessão do âmbito da saúde nos coloca diante de uma realidade que comporta processos e consequências ímpares na vida dos que são atravessados por ela. Precisamente porque inconcebível – uma criança não deve morrer –, a morte de uma criança tem um impacto fortíssimo na vida dos pais, dos irmãos, dos avós, da família alargada, dos amigos, dos profissionais de saúde e de toda a comunidade envolvente. Tal complexidade impõe uma especial atenção à multidimensionalidade do cuidado – seja o especificamente clínico, seja o de índole mais relacional, seja ainda o de teor espiritual – e à necessária especialização e crescente aquisição de competências daqueles que acompanham no processo de morrer, na morte e no luto.
Da partilha de experiências e visões que as diversas áreas de ação no âmbito da saúde colocaram em comum emergiram algumas linhas de reflexão e de ação que o processo conducente às Jornadas de Maio deve considerar especialmente, como: a urgência de colocar a antropologia e as humanidades no âmago dos cursos de saúde, com o impacto que tal poderá ter no contexto do educar para a morte e da especialização em acompanhamento no morrer e no luto, aspetos também a estimular muito decididamente em termos formativos; o fomento do treino em autoconhecimento, em coping e em comunicação para os profissionais, bem como a criação de estruturas de apoio para os mesmos; o estreitamento das sinergias e relações de cooperação interinstitucionais e interprofissionais; a aposta decidida em equipas especializadas em cuidados paliativos pediátricos; a reflexão crescentemente mais apurada sobre questões éticas conexas com as decisões em fim de vida; a consideração dos aspetos políticos e jurídico-legais carentes de intervenção e revisão; a potenciação do que de bom existe e é feito, quer ao nível das respostas quer da reflexão e dos subsídios, reconhecendo as lacunas ainda existentes e procurando encontrar caminhos para superá-las; entre outras.
No âmbito da pastoral, o difícil confronto das famílias com a morte e o luto, especialmente quando se trata da morte ou do luto de uma criança, evidencia uma carência de respostas adequadas. Isto é notório, de modo particular: na fuga a um discurso frontal e na inexistência de recursos ajustados de linguagem, de simbólicas e de ritualidades para tratar o tema da morte, do luto e da escatologia cristã; na deficiente formação dos agentes pastorais para acompanhar pessoas, famílias e crianças em luto; nas dificuldades conexas com a transmissão da fé e a educação para a morte; e num insuficiente trabalho cooperativo com profissionais e outras instituições no apoio em final de vida e no luto.
Entre as boas práticas de ajuda no processo do luto das crianças salientaram-se: uma linguagem frontal e simples para falar da morte, o recurso a estórias, a importância da escuta e a inclusão das crianças no acompanhamento da morte e celebrações fúnebres de pessoas próximas. Quanto a pais enlutados, sublinhou-se a importância de espaços de partilha comunitária, a par do acompanhamento individual especializado, e a complementaridade entre apoio médico e pastoral.
Assumiram-se como desafios uma necessária reflexão teológica e pastoral em torno do tema da morte e da escatologia que resulte num discurso mais adequado e num acompanhamento pastoral mais cuidado a pessoas em luto, nomeadamente crianças ou pais que perderam filhos crianças. Entre as necessidades de intervenção destacaram-se: o desenvolvimento de projetos pastorais e de formação de agentes para o acompanhamento no luto, uma adequação da liturgia fúnebre e o investimento na educação para a morte e na preparação das tarefas de fim de vida.
Tornou-se evidente, em cada um dos âmbitos, a necessidade de um trabalho colaborativo que possa conduzir a um impacto real nos contextos de vida em que a realidade da morte em relação com as crianças tem lugar. A disponibilidade para essa cooperação interdisciplinar obriga a um compromisso por prosseguir esse esforço de leitura da realidade com vista à sua urgente transformação. É para esse caminho de transformação que se pretende, com este processo, contribuir.
Nota: não obstante o adiamento das Jornadas, o programa mantém-se, na essência, inalterado. Contudo, encontra-se em processo a confirmação de todos os intervenientes, o que pode suscitar algum ajuste incontornável.
Os trabalhos do dia 9 de outubro – sessões paralelas da manhã e sessão plenária da tarde – terão lugar no Centro Pastoral de Paulo VI. No dia 10, as sessões paralelas da manhã e parte da tarde terão lugar no Centro Pastoral de Paulo VI, na Casa de Retiros de Nossa Senhora do Carmo e na Casa de Retiros de Nossa Senhora das Dores, de acordo com a atribuição a cada âmbito (a indicar oportunamente). A sessão plenária deste dia realizar-se-á também no Centro Pastoral de Paulo VI. No dia 8 de outubro, terá lugar uma sessão inteiramente dedicada ao âmbito pastoral, especificamente para ministros ordenados, na Casa de Retiros de Nossa Senhora do Carmo. No último dia, 11 de outubro, decorrerá uma sessão também do âmbito pastoral, mas destinada a todos os agentes pastorais; acontecerá no Centro Pastoral de Paulo VI.
pastoral / ministros ordenados local a definir |
10h00Conferência 1: A morte e o morrer, um lugar antropológico, teológico e pastoral José Nuno Silva |
10h45Conferência 2: O luto das crianças como desafio pastoral Consuelo Santamaría Repiso |
11h30Painel: Antes, durante e depois… experiências
Emília Maria Agostinho |
13h00Almoço |
14h30Workshops: Diversas experiências, diferentes caminhos * os workshops acontecem em paralelo; serão anunciados na abertura das inscrições |
16h00Intervalo |
16h30Conferência 3: O impacto pessoal: como cuidar? Valentín Rodil Gavala |
17h30Diálogo |
18h30Missa |
20h00Jantar |
educação local a definir |
saúde local a definir |
pastoral local a definir |
09h00
Cursos monográficos: Maria Júlia Kovács Educação para a interioridade Marta Burguet Educação, literatura, morte e transcendência José Rui Teixeira * os cursos monográficos acontecem em paralelo, com programa próprio |
09h00
Seminário internacional: * o programa específico deste seminário será divulgado na abertura das inscrições |
09h00
Cursos monográficos: Hugo Lucas e Emília Fradique Relação pastoral de ajuda Valentín Rodil Gavala O luto e as crianças Consuelo Santamaría Repiso * os cursos monográficos acontecem em paralelo, com programa próprio |
13h00Almoço |
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plenário Centro Pastoral de Paulo VI |
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14h30Sessão de abertura
D. António Marto |
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15h00Conferência inaugural: As crianças, a morte e o luto: um olhar multidimensional Maria Júlia Kovács |
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16h00Painel interdisciplinar 1: Quando as crianças morrem
Na comunidade educativa / João Costa |
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17h30Intervalo |
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18h00Painel interdisciplinar 2: Quando as crianças perdem
Na comunidade educativa / Maria do Céu Roldão |
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20h00Jantar |
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21h30Sessão cultural |
educação local a definir |
saúde local a definir |
pastoral local a definir |
09h00Conferência 1: O luto em contexto escolar Ana Granja |
09h00Conferência 1: Os cuidados paliativos pediátricos: um compromisso Cândida Cancelinha |
09h00Conferência 1: A comunidade, as palavras e o dizê-las Jorge Vilaça |
09h30Painel 1: O luto em contexto escolar
Na escola pública / Filinto Lima |
09h30Painel 1: Diversas experiências, diferentes caminhos |
09h30Painel 1: A linguagem e a comunicação
Na liturgia / Francisco Couto |
10h30Intervalo |
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11h00Conferência 2: A morte e o luto: necessidades e formação dos agentes educativos Maria da Conceição Azevedo (coord.), Isabel Baptista, António Filipe Barbosa |
11h00Conferência 2: Trajetos de formação e suporte no luto Francisco Mendes (coord.), João Bernardes, Cecília Leão, Eduardo Carqueja, Sara Pinto, João Cerqueira |
11h00Conferência 2: O acompanhamento pastoral das famílias na morte e no luto Fernando Sampaio (coord.), Hugo Lucas, Tiago Neto |
12h00Workshops: Diversas experiências, diferentes caminhos * os workshops acontecem em paralelo; serão anunciados na abertura das inscrições |
12h00Painel 2: Impactos, consequências e perspetivas
Os profissionais / Lincoln Justo da Silva |
12h00Workshops: Diversas experiências, diferentes caminhos * os workshops acontecem em paralelo; serão anunciados na abertura das inscrições |
13h00Almoço |
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14h30Conferência 3: Pedagogia escolar e educação para a morte Carlos Meneses (coord.), Cristiana Fonseca, Jorge Pacheco, Sofia Fonseca |
14h30Conferência 3: Luto e cuidados de saúde baseados em valor Ana Querido (coord.), Alexandra Correia, João Marques Gomes, Ana Sargento, Maria Barros |
14h30Conferência 3: Grupos de apoio ao luto nas paróquias José Nuno Silva (coord.), Manuel Mendes, Maria do Rosário Rodrigues, Isabel Ribeiro, Goreti Portela |
15h30Conferência 4: A educação para a interioridade na integração da finitude e na gestão do luto Marta Burguet & Comentários |
15h30Conferência 4: Decisões em fim de vida em contexto pediátrico Joan Marston & Comentários |
15h30Painel 2: As religiões: olhares e práticas
Protestantismo / Jorge Humberto |
16h30Intervalo |
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17h00Workshops (repetição) |
17h00Workshops: Diversas experiências, diferentes caminhos * os workshops acontecem em paralelo; serão anunciados na abertura das inscrições |
17h00Círculos da família
Perdi um filho / * os círculos da família acontecem em paralelo |
plenário Centro Pastoral de Paulo VI |
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18h30Sessão de encerramento
«Fico cá sozinha?». O escândalo da morte e o tempo do cuidar / Pedro Valinho Gomes |
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20h00Jantar |
pastoral local a definir |
09h00Conferência 1: A morte e o morrer, um lugar antropológico, teológico e pastoral José Nuno Silva |
09h40Conferência 2: O luto: compreendê-lo e fazê-lo Eduardo Carqueja |
10h20Intervalo |
10h45Painel: As crianças diante da morte
O entendimento das crianças / Ana Rocha Santos |
11h30Diálogo José Nuno Silva, Eduardo Carqueja, Ana Rocha Santos, Sara Melo |
12h15Conferência final: Que promessa habita a morte? Uma proposta teológica Pedro Valinho Gomes Encerramento
Carlos Cabecinhas |
13h30Almoço |
15h00Missa de encerramento |