Apresentação

Assinalando o centenário da morte de São Francisco e de Santa Jacinta Marto (2019 e 2020), o Santuário de Fátima promove as Jornadas interdisciplinares As crianças, a morte e o luto. Este processo quer reunir os agentes de educação, de cuidados de saúde e pastorais para, com o contributo das diversas ciências e em perspetiva aberta, conhecer as dificuldades e os desafios suscitados pela experiência da morte e do luto das crianças e pelas crianças em cada um destes âmbitos, aprofundar a consciência dos seus significados e consequências, procurar linhas de intervenção culturalmente e socialmente transformadora e propor subsídios concretos para a integração e o acompanhamento das pessoas, das famílias e das instituições que vivem esta experiência com sofrimento.

Processo

No centenário da morte dos santos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto, o Santuário de Fátima propõe à sociedade portuguesa um processo de reflexão sobre a morte das crianças, as crianças em luto e o luto pelas crianças. Num contexto histórico marcado pela negação da morte e do morrer, o Santuário quer reunir aqueles que no âmbito da educação, da saúde e da pastoral se encontram com as dificuldades de acompanhar as crianças em processo de morrer ou em processo de luto e os adultos em luto pelas crianças. O mal-estar cultural e social decorrente desta negação encontra na morte das crianças um dos seus maiores fatores e simultaneamente uma das suas máximas expressões. Desde sempre a interrogação mais profunda que experimenta o espírito humano, o fenómeno do sofrimento e morte das crianças assume dimensões que permitem classificá-lo entre os novos sofrimentos da presente época a que se quer abrir o Santuário de Fátima, desde a origem um lugar de convergência de sofrimentos e de refúgio de sofredores.
O processo As crianças, a morte e o luto, iniciado em junho de 2019 com a constituição de um Grupo de Trabalho nacional interdisciplinar, culmina em maio de 2020 com a realização destas Jornadas internacionais. O Grupo de Trabalho é constituído por especialistas desses diferentes âmbitos que a reflexão pretende envolver: a educação, a saúde e a pastoral. São finalidades assumidas deste projeto:
  • diagnosticar as dificuldades e os desafios socioculturais globalmente e em cada um dos âmbitos;
  • aprofundar a consciência do significado e das consequências desta realidade;
  • descobrir linhas de intervenção culturalmente e socialmente transformadoras;
  • elaborar subsídios e instrumentos que ajudem os agentes educativos, de cuidados de saúde e pastorais na tarefa de integrar e acompanhar a morte e o luto das crianças e pelas crianças.
As expetativas de superação da morte alimentadas pelo exponencial desenvolvimento das ciências médicas aprofundam o caráter escandaloso da morte das crianças e o sofrimento experimentado diante deste fenómeno é ainda agravado pela alteração da perceção da condição infantil e do estatuto das crianças na família e na sociedade. No presente contexto de laicidade e pluralismo, marcado pela revolução digital e pela emergência das novas tecnologias de comunicação e mais aberto aos valores e às referências de cada indivíduo e à sua subjetividade, os corpos sociais, nomeadamente as famílias, o sistema educativo e as religiões tradicionais, veem-se sem o recurso de uma linguagem comum e respostas universalmente reconhecidas, o que se traduz em insegurança e incapacidade de significar, integrar e acompanhar. Este é o primeiro tempo da história que, não dispondo de uma ars moriendi, se vê incompetente para preparar para a morte, acompanhar os que morrem, significar o acontecimento da morte, fazer o luto e acompanhar os enlutados. Tudo isto se experimenta mais dramaticamente quando envolve a infância.
A procura de um olhar global sobre uma realidade tão claramente multifacetada exige a opção por uma aproximação multidimensional e interdisciplinar aos diversos âmbitos em que a experiência do caráter problemático desta questão se verifica. Para alcançar os objetivos pretendidos, são necessárias, por um lado, a abordagem da questão de modo específico em cada um desses âmbitos e, por outro, a conjugação dos resultados destas aproximações especializadas. Um momento importante deste percurso foi o Seminário As crianças, a morte e o luto, que em 23 de novembro reuniu especialistas e responsáveis de cerca de 40 organismos da sociedade civil e da Igreja, ativos nos três âmbitos envolvidos por este processo, para conjuntamente aprofundar o diagnóstico realizado pelo Grupo de Trabalho e definir linhas de rumo para a continuação do processo.

Enquanto primeiro momento alargado de aproximação multidimensional e interdisciplinar ao problema em questão, o referido Seminário de 23 de novembro permitiu esboçar um diagnóstico da realidade, alargar o conhecimento das práticas existentes e reunir contributos significativos quanto a desafios, projetos e eixos temáticos a considerar no desenvolvimento do processo, nomeadamente rumo a estas Jornadas que agora terão lugar.

No espaço educativo, a assunção da morte e do luto como tabus sociais encontra repercussões nos mais diversos níveis e dimensões, de que são exemplo a ausência de referenciais e/ou outros instrumentos auxiliadores de atuação, o ténue aprofundamento do tema a nível curricular ou mesmo, em alguns casos, a excisão de partes em que se aborde o tema da morte e do luto em obras culturais em estudo.

No quotidiano, quando a morte/luto se faz presente em algum elemento da comunidade educativa, a atuação dos profissionais realiza-se empenhando os esforços individuais dos diversos intervenientes, mais ou menos esclarecidos, prevalentemente sem orientações cabais nem sistematização na intervenção, que fica a cargo maioritariamente das pessoas de referência do enlutado ou entregue aos serviços de psicologia e orientação.

Relativamente à formação dos diferentes agentes educativos, relevou-se a ausência destas temáticas na formação dos professores na pluralidade das áreas científicas que compõe o curriculum escolar português. Por norma, os elementos presentes nas escolas que são considerados mais capacitados para lidar com esta temática são, genericamente, os psicólogos escolares. São eles os interpelados a agir sempre que se constata alguém a passar por esta necessidade, mesmo que, por vezes, sintam impreparação para a realidade com que se deparam.

Embora se reconheça a relevância do tema, por tratar uma realidade que atravessa de forma marcante a vida das pessoas que compõem a comunidade educativa, parece frequente remeter-se o assunto para a esfera familiar/privada, por duas razões fundamentais: por um lado, por esta realidade ser, aparentemente, assumida como de natureza extraescolar, com consequente demissão do processo por parte das instâncias oficiais; por outro lado, pela ausência de referenciais comuns de atuação que apoiem na sua gestão, com a subsequente perceção de inaptidão para o acompanhamento.

Também o diagnóstico traçado pela sessão do âmbito da saúde nos coloca diante de uma realidade que comporta processos e consequências ímpares na vida dos que são atravessados por ela. Precisamente porque inconcebível – uma criança não deve morrer –, a morte de uma criança tem um impacto fortíssimo na vida dos pais, dos irmãos, dos avós, da família alargada, dos amigos, dos profissionais de saúde e de toda a comunidade envolvente. Tal complexidade impõe uma especial atenção à multidimensionalidade do cuidado – seja o especificamente clínico, seja o de índole mais relacional, seja ainda o de teor espiritual – e à necessária especialização e crescente aquisição de competências daqueles que acompanham no processo de morrer, na morte e no luto.

Da partilha de experiências e visões que as diversas áreas de ação no âmbito da saúde colocaram em comum emergiram algumas linhas de reflexão e de ação que o processo conducente às Jornadas de Maio deve considerar especialmente, como: a urgência de colocar a antropologia e as humanidades no âmago dos cursos de saúde, com o impacto que tal poderá ter no contexto do educar para a morte e da especialização em acompanhamento no morrer e no luto, aspetos também a estimular muito decididamente em termos formativos; o fomento do treino em autoconhecimento, em coping e em comunicação para os profissionais, bem como a criação de estruturas de apoio para os mesmos; o estreitamento das sinergias e relações de cooperação interinstitucionais e interprofissionais; a aposta decidida em equipas especializadas em cuidados paliativos pediátricos; a reflexão crescentemente mais apurada sobre questões éticas conexas com as decisões em fim de vida; a consideração dos aspetos políticos e jurídico-legais carentes de intervenção e revisão; a potenciação do que de bom existe e é feito, quer ao nível das respostas quer da reflexão e dos subsídios, reconhecendo as lacunas ainda existentes e procurando encontrar caminhos para superá-las; entre outras.

No âmbito da pastoral, o difícil confronto das famílias com a morte e o luto, especialmente quando se trata da morte ou do luto de uma criança, evidencia uma carência de respostas adequadas. Isto é notório, de modo particular: na fuga a um discurso frontal e na inexistência de recursos ajustados de linguagem, de simbólicas e de ritualidades para tratar o tema da morte, do luto e da escatologia cristã; na deficiente formação dos agentes pastorais para acompanhar pessoas, famílias e crianças em luto; nas dificuldades conexas com a transmissão da fé e a educação para a morte; e num insuficiente trabalho cooperativo com profissionais e outras instituições no apoio em final de vida e no luto.

Entre as boas práticas de ajuda no processo do luto das crianças salientaram-se: uma linguagem frontal e simples para falar da morte, o recurso a estórias, a importância da escuta e a inclusão das crianças no acompanhamento da morte e celebrações fúnebres de pessoas próximas. Quanto a pais enlutados, sublinhou-se a importância de espaços de partilha comunitária, a par do acompanhamento individual especializado, e a complementaridade entre apoio médico e pastoral.

Assumiram-se como desafios uma necessária reflexão teológica e pastoral em torno do tema da morte e da escatologia que resulte num discurso mais adequado e num acompanhamento pastoral mais cuidado a pessoas em luto, nomeadamente crianças ou pais que perderam filhos crianças. Entre as necessidades de intervenção destacaram-se: o desenvolvimento de projetos pastorais e de formação de agentes para o acompanhamento no luto, uma adequação da liturgia fúnebre e o investimento na educação para a morte e na preparação das tarefas de fim de vida.

Tornou-se evidente, em cada um dos âmbitos, a necessidade de um trabalho colaborativo que possa conduzir a um impacto real nos contextos de vida em que a realidade da morte em relação com as crianças tem lugar. A disponibilidade para essa cooperação interdisciplinar obriga a um compromisso por prosseguir esse esforço de leitura da realidade com vista à sua urgente transformação. É para esse caminho de transformação que se pretende, com este processo, contribuir.

Programa

Nota: não obstante o adiamento das Jornadas, o programa mantém-se, na essência, inalterado. Contudo, encontra-se em processo a confirmação de todos os intervenientes, o que pode suscitar algum ajuste incontornável.
Os trabalhos do dia 9 de outubro – sessões paralelas da manhã e sessão plenária da tarde – terão lugar no Centro Pastoral de Paulo VI. No dia 10, as sessões paralelas da manhã e parte da tarde terão lugar no Centro Pastoral de Paulo VI, na Casa de Retiros de Nossa Senhora do Carmo e na Casa de Retiros de Nossa Senhora das Dores, de acordo com a atribuição a cada âmbito (a indicar oportunamente). A sessão plenária deste dia realizar-se-á também no Centro Pastoral de Paulo VI. No dia 8 de outubro, terá lugar uma sessão inteiramente dedicada ao âmbito pastoral, especificamente para ministros ordenados, na Casa de Retiros de Nossa Senhora do Carmo. No último dia, 11 de outubro, decorrerá uma sessão também do âmbito pastoral, mas destinada a todos os agentes pastorais; acontecerá no Centro Pastoral de Paulo VI.

pastoral / ministros ordenados

local a definir

10h00

Conferência 1: A morte e o morrer, um lugar antropológico, teológico e pastoral

José Nuno Silva

10h45

Conferência 2: O luto das crianças como desafio pastoral

Consuelo Santamaría Repiso

11h30

Painel: Antes, durante e depois… experiências

Emília Maria Agostinho
Teresa Ferreira
Abílio Rodrigues
Cátia Lopes de Freitas

13h00

Almoço

14h30

Workshops: Diversas experiências, diferentes caminhos

* os workshops acontecem em paralelo; serão anunciados na abertura das inscrições

16h00

Intervalo

16h30

Conferência 3: O impacto pessoal: como cuidar?

Valentín Rodil Gavala

17h30

Diálogo

18h30

Missa

20h00

Jantar

educação

local a definir

saúde

local a definir

pastoral

local a definir

09h00

Cursos monográficos:

Educação para a morte

Maria Júlia Kovács


Educação para a interioridade

Marta Burguet


Educação, literatura, morte e transcendência

José Rui Teixeira


* os cursos monográficos acontecem em paralelo, com programa próprio

09h00

Seminário internacional:

Os cuidados paliativos pediátricos nos 30 anos da Convenção sobre os Direitos da Criança


* o programa específico deste seminário será divulgado na abertura das inscrições


09h00

Cursos monográficos:

Tarefas de fim de vida

Hugo Lucas e Emília Fradique


Relação pastoral de ajuda

Valentín Rodil Gavala


O luto e as crianças

Consuelo Santamaría Repiso


* os cursos monográficos acontecem em paralelo, com programa próprio

13h00

Almoço

plenário

Centro Pastoral de Paulo VI

14h30

Sessão de abertura

D. António Marto
Carlos Cabecinhas
Maria da Conceição Azevedo
Filipe Almeida
José Nuno Silva

15h00

Conferência inaugural: As crianças, a morte e o luto: um olhar multidimensional

Maria Júlia Kovács

16h00

Painel interdisciplinar 1: Quando as crianças morrem

Na comunidade educativa / João Costa
Nos cuidados de saúde / Ricardo Martino
Na comunidade eclesial / José Manuel Pereira de Almeida

17h30

Intervalo

18h00

Painel interdisciplinar 2: Quando as crianças perdem

Na comunidade educativa / Maria do Céu Roldão
Nos cuidados de saúde / Cristina Pinto
Na comunidade eclesial / Consuelo Santamaría Repiso

20h00

Jantar

21h30

Sessão cultural

educação

local a definir

saúde

local a definir

pastoral

local a definir

09h00

Conferência 1: O luto em contexto escolar

Ana Granja

09h00

Conferência 1: Os cuidados paliativos pediátricos: um compromisso

Cândida Cancelinha

09h00

Conferência 1: A comunidade, as palavras e o dizê-las

Jorge Vilaça

09h30

Painel 1: O luto em contexto escolar

Na escola pública / Filinto Lima
Na escola católica / Fernando Magalhães
A articulação com a família / Jorge Ascenção

09h30

Painel 1: Diversas experiências, diferentes caminhos

09h30

Painel 1: A linguagem e a comunicação

Na liturgia / Francisco Couto
Na catequese / Cristina Sá Carvalho
Na pastoral familiar / Sandra e Jorge Novo
Na pastoral da saúde / José Nuno Silva

10h30

Intervalo

11h00

Conferência 2: A morte e o luto: necessidades e formação dos agentes educativos

Maria da Conceição Azevedo (coord.), Isabel Baptista, António Filipe Barbosa

11h00

Conferência 2: Trajetos de formação e suporte no luto

Francisco Mendes (coord.), João Bernardes, Cecília Leão, Eduardo Carqueja, Sara Pinto, João Cerqueira

11h00

Conferência 2: O acompanhamento pastoral das famílias na morte e no luto

Fernando Sampaio (coord.), Hugo Lucas, Tiago Neto

12h00

Workshops: Diversas experiências, diferentes caminhos

* os workshops acontecem em paralelo; serão anunciados na abertura das inscrições

12h00

Painel 2: Impactos, consequências e perspetivas

Os profissionais / Lincoln Justo da Silva
As famílias / José Eduardo Rebelo
Os voluntários / Telma Sousa e Fátima Coelho

12h00

Workshops: Diversas experiências, diferentes caminhos

* os workshops acontecem em paralelo; serão anunciados na abertura das inscrições

13h00

Almoço

14h30

Conferência 3: Pedagogia escolar e educação para a morte

Carlos Meneses (coord.), Cristiana Fonseca, Jorge Pacheco, Sofia Fonseca

14h30

Conferência 3: Luto e cuidados de saúde baseados em valor

Ana Querido (coord.), Alexandra Correia, João Marques Gomes, Ana Sargento, Maria Barros

14h30

Conferência 3: Grupos de apoio ao luto nas paróquias

José Nuno Silva (coord.), Manuel Mendes, Maria do Rosário Rodrigues, Isabel Ribeiro, Goreti Portela

15h30

Conferência 4: A educação para a interioridade na integração da finitude e na gestão do luto

Marta Burguet & Comentários

15h30

Conferência 4: Decisões em fim de vida em contexto pediátrico

Joan Marston & Comentários

15h30

Painel 2: As religiões: olhares e práticas

Protestantismo / Jorge Humberto
Islão / Khalid Jamal
Hinduísmo / Suryakala Chhaganlal

16h30

Intervalo

17h00

Workshops (repetição)

17h00

Workshops: Diversas experiências, diferentes caminhos

* os workshops acontecem em paralelo; serão anunciados na abertura das inscrições

17h00

Círculos da família

Perdi um filho /
Perdi um irmão /
Perdi um neto /

* os círculos da família acontecem em paralelo

plenário

Centro Pastoral de Paulo VI

18h30

Sessão de encerramento

«Fico cá sozinha?». O escândalo da morte e o tempo do cuidar / Pedro Valinho Gomes
As crianças, a morte e o luto: projeção interdisciplinar / Maria da Conceição Azevedo, Filipe Almeida, José Nuno Silva

20h00

Jantar

pastoral

local a definir

09h00

Conferência 1: A morte e o morrer, um lugar antropológico, teológico e pastoral

José Nuno Silva

09h40

Conferência 2: O luto: compreendê-lo e fazê-lo

Eduardo Carqueja

10h20

Intervalo

10h45

Painel: As crianças diante da morte

O entendimento das crianças / Ana Rocha Santos
Como dizer & fazer / Sara Melo

11h30

Diálogo

José Nuno Silva, Eduardo Carqueja, Ana Rocha Santos, Sara Melo

12h15

Conferência final: Que promessa habita a morte? Uma proposta teológica

Pedro Valinho Gomes


Encerramento

Carlos Cabecinhas
José Nuno Silva

13h30

Almoço

15h00

Missa de encerramento

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